Em Março de 2020 o mundo parou. Literalmente. Parou, congelou, petrificou, e com ele, todos nós.

Esta foi uma data que ficará para sempre como uma fase que mudou a Humanidade como ela existia até então. Um vírus mortal espalhou-se e com ele o confronto com a morte trouxe-nos a todos pensamentos que até então não tinham surgido.

Não sentimos todos de forma igual, não lidamos todos de forma igual e como tal, não passámos por isto todos de forma igual. O mundo dividiu-se entre os negacionistas e os crentes. Não em Deus, na mortalidade de um vírus. Independentemente do lado, este acontecimento afetou-nos a todos. Tudo foi posto em pausa. Todos os planos cancelados. Tudo parou. Restava-nos esperar e proteger-nos de um inimigo invisível.

Todos fomos confrontados com a morte de pessoas queridas, com o medo de morrer, com o medo do desconhecido. Todos vimos a nossa liberdade privada. Todos nos vimos controlados por algo que não conseguíamos controlar, e isso deixa a sua marca.

Ao fim de dois anos a vida retomou a normalidade, mas nós já não somos os mesmos.

Voltar à normalidade é algo que parece óbvio, mas para alguns não está a ser fácil. Porque agora somos diferentes.

Podemos todos voltar ás nossas rotinas, mas não podemos ignorar o facto de aqueles meses nos terem levado a sítios que nunca tínhamos visitado. A situações difíceis. A momentos desesperantes. A níveis de stress que nunca pensámos passar.

Foi uma situação traumática para todos. Todos sentimos o trauma, ainda que cada um à sua maneira. E é importante aceitarmos isto. É importante olharmos para o quão frágeis nos sentimos todos e aceitarmos que todos tivemos medo.

Quase 3 anos depois do trauma os números são alarmantes. Os níveis de ansiedade, as taxas de suicídio, a prescrição de anti-depressivos. Não adianta enfiar a cabeça debaixo da areia e ignorar o que se passou.

Foi duro, foi duro para todos.

E não é por ter sido para todos que se torna mais fácil.

Não há como normalizar um trauma só porque foi partilhado por todos. Há que olhar para ele, aceitá-lo e aprender a dar valor às pequenas coisas de que fomos privados naquele momento. Há que viver a vida que nos restou, agora com outros olhos.

Há que (Re)construir quem somos, depois desta fase que ficará para sempre registada na história.