O consumo de anti depressivos em Portugal aumentou 304% entre 2000 e 2020. Este não é certamente um bom retrato do que se passa com a nossa saúde mental, mas, infelizmente é bem realista. O que mudou nesta década? Tudo! E tudo mudou muito!

Não foi “só” a pandemia, foi também o nosso estilo de vida, a forma como a encaramos e a presença das redes sociais.

Andamos a correr de um lado para o outro, cada vez com menos tempo para nos dedicarmos ao que realmente nos importa. Corremos com a sofregidão de quem está cheio de sede de parar mas enche o calendário com tudo e mais alguma coisa porque isso é sinónimo de felicidade.

A carga horária dos trabalhos está cada vez maior e o limite cada vez mais longe de ser respeitado. O trabalhador está disponível (ou à distância de um WhatsApp) 24 horas por dia. Receber uma mensagem às 21h00, mesmo que seja de um assunto só para o dia seguinte, invade o espaço de descanso do trabalhador e coloca-lhe o sentido de urgência de algo que só tem de ser resolvido no dia seguinte.

As redes sociais trazem proximidade dos que nos são queridos e estão longe, trazem uma gargalhada por um meme que foi criado MAS trazem também uma imagem irreal do que é a vida na sua essência. Estar presente implica obrigatoriamente desligar do que os outros andam a fazer. Porque enquanto vejo o que os outros estão  a fazer, eu não estou a fazer nada por mim. Não estou a respirar, a ler, a conversar com os que estão fisicamente no mesmo espaço que eu.

Deixámos de viver, e com isso perdemos o rumo. E recorremos ao comprimido para nos trazer aquilo que deixámos ir, para nos dar a força e energia que já não temos. Porque simplesmente deixámos de saber olhar para nós.

Cuidar da saúde mental é saber desligar, olhar para dentro, perceber onde estamos e para onde queremos ir. O comprimido não nos vai trazer nenhuma destas respostas. Por mais cor de rosa que ele seja.